Gratidão.

Você acorda mas não consegue ver nada. Ao seu redor, apenas
o vácuo. Não é capaz de ver nem mesmo seu próprio corpo sem roupas,
completamente nu.
Nada. Absolutamente nada. Apenas o vazio.
Você tenta se mover e não consegue. Sente fome, frio, sede e não há nada que possa sanar suas necessidades. Tente enxergar algo novamente. Não há nada. Apenas o vazio.
Não consegue sentir, não consegue entender o que está acontecendo ao seu redor. Fecha os olhos e adormece.
Abre os olhos novamente. Enxerga seu celular carregando na mesa de cabeceira, seus lençóis desarrumados por conta da noite mal dormida. Senta-se na cama ainda embargado pelo sono, tenta se livrar do mal-estar causado pelo pesadelo.
Analisa as paredes antigas com infiltrações. Os pisos que rangem a cada passo. Começa a rotina matinal. Reclama sobre o chuveiro que demora a esquentar, a cafeteira que com muita luta despeja o café na jarra trincada.
Se arruma a contragosto para mais um dia de trabalho. O carro demora a pegar. Nesse momento, se lembra de Deus. "Meu Deus, por que?".
Ao final do dia, fica preso em um congestionamento. Olha incessantemente para o relógio no pulso e mais uma vez murmura pelos cantos.
Chega em casa, a fechadura emperra. Bate o dedinho do pé na mesa de centro da sala. Wi-fi está lento, não há nada interessante na televisão.
Como por teimosia, insiste em questionar o Senhor por quais motivos essas coisas acontecem a você.
Deixo aqui uma pergunta: Se você acordasse e tivesse apenas as coisas pelas quais agradeceu, estaria no pesadelo ou em sua vida normal?
Se a cada momento que murmura à Deus, agradecesse, como estaria a sua vida?

Julia Gonçalves de Souza

